quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Portugal não é um país tão pequeno como parece!
Basta-nos para isso optar pelas velhas estradas que ainda passam pelos centros das terras que antigamente serviam também para marcar as viagens por etapas,
parar para desentorpecer as pernas e arrefecer os motores.
Acordei cedo em Chaves e resolvi seguir pela N2 até acabarem os marcos da estrada.
Cheguei 4 dias depois ao Km 737, a escassos metros da placa que marca o limite urbano da cidade de Faro.
“Fiz-me” à estrada” para atravessar Portugal pela N2 numa velha carrinha VW do tempo em que não havia alternativas ao itinerário para quem fosse de Chaves para Faro. Assim não destoava na paisagem nem nos desenhos que fiz pelo caminho!
A N2 segue de norte a sul pelo eixo longitudinal de Portugal, pela sua equidistância foi em tempos, muito antes de ser estrada nacional e de haver automóveis um eixo importante de defesa e de desenvolvimento económico.
Hoje é uma estrada esquecida, cheguei a percorrer dezenas de kilómetros sem me cruzar com ninguém, algumas barragens e vias rápidas atravessaram-se pelo velho caminho, hoje com o dedo no mapa dificilmente conseguimos acompanhar
a totalidade do o seu percurso.
A estrada encontra sempre vias alternativas aos grandes desníveis, caminhando pelos vales e meias encostas, provavelmente para poupar as mulas e os cavalos na era pré automóvel e que agora deram muito jeito aos escassos cavalos do motor da carrinha.
Sendo pequeno, Portugal não será talvez um país que convide a grandes travessias, pelo percurso da N2 pude experimentar um pouco dessa sensação, da melhor forma, devagar numa “pão de forma”.

Ver o filme da primeira parte da viagem Chaves-Viseu no "i" on line aqui!
Os caminhos que fariam a união das várias regiões do País de norte a sul, pelo seu eixo equidistante entre a fronteira e o mar, terão sido pensados e concretizados durante a segunda metade do séc XIX por Fontes Pereira de Melo, e no século seguinte durante a década de 30 já na era do automóvel pavimentados durante as grandes campanhas de obras públicas realizadas enquanto o Engenheiro Duarte Pacheco foi ministro. Assim foi feita a Nacional 2, estrada com alguma aura mítica talvez por isso mesmo e por ligar Trás-os-Montes ao Algarve. Por ela temos a sensação de voltar a um Portugal imenso, a noção real da riqueza da diversidade paisagística e uma verdadeira sensação de travessia mesmo num país tão pequeno. A N2 poderia ser agora uma rota turística para uma semana de férias, mas não é!
Esta foi a nave que me levou a mim e ao meu navegador Buggy a atravessar durante Portugal durante 4 dias aproveitados ao minuto, sem sair da mais mítica estrada do país, a Nacional 2.
A viagem começa aqui, estaciono a carrinha à noite no parque do Hotel termal em Chaves perto do rio, junto à bica termal pública onde a àgua vem da terra a 70º. De manhã bem cedo fiz um chá instantâneo partilho esta bica medicinal com um senhor que há noite tinha abusado do fígado. A viajem começa assim um chá em Chaves em loiça de esmalte.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Chaves é uma cidade com a escala natural do homem, é por isso que nos sentimos bem quando ali damos uma volta a pé. A estrutura do centro histórico continua intacta com todo o comércio e serviços a funcionar, tudo à distancia de dois passos entre o cá e o lá da ponte romana. Magnífico!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Fazia questão absoluta de sair de Chaves pela mais extensa estrada de Portugal que me levaria a atravessar o país todo de lés a lés até Faro, partindo exactamente e de forma emblemática junto ao marco do kilómetro 0, onde tencionava fazer o primeiro desenho "oficial" do caminho.
A coisa começou logo por não correr bem, perdi cerca de uma hora a pé à procura do marco, perguntei a varias pessoas que me desaconselharam a ir por lá, diziam que pela N2 já não vai ninguém, mostravam-me isso sim de forma orgulhosa e convicta os acessos às novas auto estradas mas à cerca do marco nada! Até que me disseram para perguntar ao Engenheiro de uma obra de saneamento porque parecia que alguém teria visto por aí o marco junto do entulho.
Assim foi, o marco mais marcante de todos, aquele que marca o zero e que me daria o tiro da partida para um itinerário que só acabaria na outra ponta de Portugal estava caído como uma pedra tumular junto de escombros e de cadáveres de outras obras, premeditando que, tal como esse sinal de partida o que se seguisse daí para a frente seria por certo uma viagem por um caminho esquecido.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Ao kilómetro 10 uma placa desbotada pelo tempo não só nos indica o limite urbano de Vidago, como agora parece ser também um sinal nostálgico do "glamour" que esta vila conheceu sobretudo na primeira metade do séc.XX. Tinha um curiosidade acrescida de visitar Vidago, sempre fui um apreciador destas àguas, mas a sensação de desolação senti-a logo assim que cheguei. Vidago desespera na espera que sejam concluídas as tão prometidas obras da sua grande catedral turística, o Palace Hotel que devia ter ficado pronto há dois anos.
Ir às termas é hoje coisa do passado, facilmente associamos essa palavra aos velhos ou aos doentes. Aquilo que foi a principal motivação turística do princípio do turismo no mundo, já não vende, o Hotel Palace de Vidago terá também ele de se reconverter num SPA.
Por vezes basta mudar o nome!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

"O texas" como lhe chamavam as gentes da região fez quase sempre a ligação entre Chaves e Vila Real. Em 1910 quando este troço foi inaugurado até 1978 altura em que a automotora a diesel o substitui, foi sempre o velho vapor que ia espalhando fumassa pelo mesmo vale por onde passa a N2, que fazia todo serviço dos aquistas que aqui desciam das carruagens para as termas.
A automotora a Diesel ainda por ali parou até 1990, altura desde a qual a terra parece ter também parado.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O Hotel Salus mais tarde chamado hotel do Golf foi em 1918 a segunda grande construção hoteleira a ser construída em Vidago depois do Palace. Dois grandes testemunhos da prosperidade que o turismo termal conheceu em Vidago durante a primeira metade do séc. XX. A ruína em que se encontra não é de agora, o hotel fechou há 50 anos. Parei a carrinha num antigo acesso que o mato entretanto cobriu, aproximei-me a pé até à monumental porta de entrada, os plátanos que circundam o hotel cresceram tanto que toda a fachada fica agora debaixo dos seus ramos, o vento assobiava entre as folhas e quando estava prestes a entrar no grande hall levantaram-se pássaros, que voaram assustados pelas janelas fora, tal como nas séries dos Pequenos Vagabundos ou nas Histórias dos Cinco.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Passada a Serra do Alvão aproxima-se uma das zonas mais emblemáticas do país, a descida às curvas entre socalcos e vinhas, para o Peso da Régua onde a N2 atravessa a antiga ponte sobre o Rio Douro.
Na impossibilidade de parar nesse troço de estrada estreita e sinuosa, recorri à memória para fazer o desenho.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A abertura de um eixo transitável de norte a sul de Portugal pela sua espinha dorsal que fosse equidistante entre Espanha e o litoral, feitas por altura do fontismo (Fontes Pereira de Melo), com intenções estratégicas militares, mas também pela primeira vez com intenções de minimizar os efeitos da interioridade.
Esta fonte é do tempo da abertura desse caminho, pensado para os cavalos e para as diligências, com a mestria de conseguir atravessar as serras do norte, pelos vales e meias encostas, sem nunca descer nem subir muito para não cansar os animais, e ainda apetrechada com uma rede de "estações de serviço" como esta.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O "Nitrato do Chile" a par com o "Licor Beirão" disputavam em tempos os espaços de melhor visibilidade nas entradas e saídas das terras para se fazerem anúnciar em serigrafia sobre painéis de azulejo. Contratos publicitários ao que parece bastante duráveis 50anos, 100anos?
Ainda restam alguns mas pensava encontrar mais.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Pela N2 vai-se passando por alguns restaurantes e algumas estações de serviço fantasma, fechadas à muito tempo. Outras ainda resistem à falta de tráfego.
Se virmos que os camiões param ou é porque a comida é boa, ou porque os camionistas fugiram à portagem.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Sempre gostei de "road movies" a imagem de estrada está associada à fuga, à liberdade e à ideia que não nos prendemos muito tempo a lugar nenhum, sabemos sempre que daí para
a frente tudo muda.
No entanto esse movimento e a velocidade faz com que as estradas feitas para conectar pessoas provoquem a quem as percorre uma desconecção com a paisagem real que não vemos se não pararmos*.
Hoje paramos para fazer xixi nas áreas de serviço, comemos uma empada, folheamos umas revistas e voltamos ao "road movie" que passa lá fora dos vidros do carro, a paisagem virtual é vista desta forma, mas ainda nos lembramos do tempo em que na estrada o xixi era a céu aberto e aí, inevitavelmente caíamos na realidade da paisagem.
Ouvir o silêncio, o reco reco das cigarras, o vento nas searas, o motor da motorizada que ultrapassamos, ou o zumbir da primeira mosca a chegar.
O tempo de um desenho em lugar nenhum de beira da estrada serve também para isso.
Parar.

*ver livro "duas Linhas" Pedro Costa/Nuno Louro, 2009

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

2ºDia pela N2

Não parti com objectivos de kilomtragem, ou de calendário específico para cumprir, fui rolando pela N2 para sul ao sabor do que foi acontecendo procurando gerir as horas de estrada com o tempo para desenhar.
Cumprido o primeiro dia em que atravessei os vales que ligam Chaves a Vila Real, passei por vilas com ruínas que mostram a prosperidade que tiveram em anos há muito passados como Vidago e Pedras Salgadas.
A N2 atravessa depois o Douro pela antiga ponte da Régua e segue até Viseu onde passei a primeira Noite.
É aqui que neste 2º dia retomo a “nacional” que me vai levar até à vila de Góis pouco antes do Km 300.
De Viseu para sul esta estrada entra na região centro particularmente alterada pelo “progresso”, barragens e uma encruzilhada de novas vias rápidas quase roubaram do mapa o velho itinerário. Havia até uma enorme ponte por onde passava a N2 junto à antiga aldeia da Foz do Dão que nos anos 80 ficaram submersas pela barragem da Aguieira. O Dão e o Mondego encontravam-se aqui e apartir dali o Mondego passava a ser navegável até à Figueira da Foz. Talvez por isso a Foz do Dão era também uma terra de fronteira entre a Beira interior e a Beira Litoral.
Torna-se agora mais difícil ter certezas de que vou pela estrada certa, faltam os marcos de estrada, todas as placas me mandam para as “Ipês”. As entradas das terras fazem-se por vias duplas, seguidas de rotundas, plantaram candeeiros que cruzam os céus. No meio de um percurso camuflado lá encontro um plátano ou um cedro que sobreviveu do tempo em que estas arvores serviram para a marcação da velha estrada
e que pelo seu porte ainda me servem agora para confirmar que estou no caminho certo.

(ver aqui o video reportagem do 2º dia pela N2 no "i"on line)

domingo, 6 de dezembro de 2009

A N2 com a construção da Barragem da Aguieira submergiu no princípio da década de oitenta, altura que se começam também a construir as primeiras IPs.
Desde essa década são agora cerca de 18km que se percorrem, perigosamente pela IP3 congestionada com um tráfego louco de TIRs, por pontes e viadutos hoje em condições de segurança duvidosa, sobre o verde calmo das aguas que escondem algures por ali a antiga aldeia da Foz do Dão, (ver aqui como era).
Chegado ao porto da Raiva onde se retoma a velha N2, resolvo antes de almoçar dar um mergulho no Mondego que fazia ali uma pequena praia fluvial, curiosamente sem ninguém.
Uma doze reforçada de bifes de cebolada na esplanada junto ao rio terá sido a recompensa possível da dona do restaurante por ter visto o seu cliente cair no engodo de se atirar ao rio onde sem ser visível desagua o esgoto da aldeia.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"O Espanhol" desde que o Sr. Fernando regressou a Portugal que não é conhecido por outro nome. Fui tirando "nabos da pucara" para me situar quanto à proveniência daquela figura ali sentada à sombra de uma esplanada junto ao Mondego no Porto da Raiva.
Ainda em miúdo deu "o salto" pela mão do pai. Passou a fronteira clandestinamente escapou à guerra colonial, mas não foi longe, ficou logo por ali no país vizinho onde também não prosperou.
Conta o episódio como se fosse o facto mais marcante da sua vida, pela mão do pai e sem qualquer bagagem de mão, mas com os bilhetes comprados de véspera, fingiam esperar alguém no cais de embarque da estação dos comboios.
A PIDE vigiava todas as entradas e saídas dos vagões para impedir o êxodo clandestino, eles fingiram até ao ultimo momento e com o comboio em andamento saltaram para dentro mesmo nas barbas da PIDE.
Durante alguns kilómetros julgaram-se com o caminho livre a uma vida melhor, mas não demorou muito para que fossem dadas ordens ao maquinista para parar o expresso no apeadeiro seguinte. A PIDE entrou e identificou-os com um olhar, mas o agente parece ter reconhecido o mérito engenhoso dos infractores da lei e deixou-os seguir.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

É no Porto da Raiva que se retoma a N2 depois de alguns kilometros feitos hoje inevitavelmente pela IP3, a mais fatídica estrada de Portugal que apagou do mapa 18km do troço da N2 que ligava Sta Comba Dão à Raiva. Apagada do mapa ficou também esta pitoresca aldeia beirã que se chamava a Foz do Dão, aldeia piscatória lindíssima, parada no tempo até ao início da década de 80 por se saber que mais cedo ou mais tarde iria submergir debaixo das àguas de uma Barragem prevista que se veio a chamar de Aguieira, construída em 1981.
A N2 passava por ali, às curvas entre vales e pinhais, descendo até atravessar o rio junto à aldeia, por uma monumental Ponte chamada Salazar que permanece hoje igualmente submersa, construída em 1935 pelo então Ministro das obras públicas Duarte Pacheco.
Desenho feito a partir de uma fotografia antiga da Foz do Dão

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Praia Fluvial de Penacova, desenho contemplativo após um banho excelente.
Sábado, 11 de Julho, os avós levam o neto para lanchar na praia fluvial em Penacova. É a avó que prepara com todos os mimos aquilo que julga que o neto gosta mais, enquanto o avô conta as amarguras que em tempos ali passou quando levava a vida a carregar a camioneta com areia para a construção e durante a noite ainda fazia o curso de marcenaria.
Os tempos mudaram! Esse tinha sido um passado ainda recente, o avô pertence já a uma geração pós rural em que a principal actividade empregadora nesta região foi a construção.
Este mesmo espaço de memórias sofridas do avô, é hoje o espaço de brincadeira do neto, que mostrava não ter nem apetite para o lanche nem apetite para as histórias do avô.
O desenho foi feito a partir de uma fotografia tirada disfarçadamente no local.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Em Julho os dias são grandes, depois de muitos kilometros misturados com alguns desenhos chego a Gois ainda com luz de fim de tarde, hora em que "banhistas fluviais" saíam do rio e ocupavam a esplanada de onde desenhei a ponte Joanina.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Depois de um belo cabrito à moda da região, no restaurante da bomba de gasolina na entrada de Gois, que já conhecia desde pequeno através de uma vinheta da BD dos anos 70 de "Michel Vaillant" Rali de Portugal, recordo os tempos em que o rali era o ùnico acontecimento no ano que agitava aquela terra.
Hoje mesmo sem rali, Gois tem durante o verão esplanadas fantásticas em "deck"s de madeira sobre o rio Ceira, com noites de Karaoké.

sábado, 21 de novembro de 2009

3º Dia, N2, Gois - Montárgil

No 3º dia de viagem pela N2 levanto-me bem cedo para aproveitar o dia ao minuto. Ainda o sol ameaçava descobrir por detrás do perfil da Serra da Lousa, um mergulho gelado no Ceira fez-me ficar esperto para a estrada.
Este foi um dia pautado por mergulhos sucessivos sempre que passava por rios ou barragens. Senti-me uma espécie de “provador” perante um enorme “menu” de praias fluviais. Ao Kilómetro 301 tenho a sensação de quase entrar na banheira de uma casa de banho familiar, quando partilho um banho de rio com as pessoas da povoação de Álvares.
A N2 segue para sul sempre mais ou menos às curvas serpenteando as serras que se sucedem até Vila do Rei. Atravessa vastas áreas de pinheiros e eucaliptos que têm sido sucessivamente pasto para fogos. Do centro geodésico de Portugal até passar
o Tejo em Abrantes é sempre a descer é altura para deixar arrefecer o motor.
O Tejo marca a verdadeira fronteira na paisagem entre o norte e o sul.
Daí para baixo tudo muda, os pontos de água passam a ser escassos,
as curvas dão lugar às grandes rectas e do verde predominante passamos para o amarelo.
O calor é agora mais intenso e os “spots” para banhos de rio menos frequentes, contam-se daí para baixo algumas barragens nem sempre convidativas
a mergulhos. A estrada segue agora perfeitamente identificável excepto nas entradas
e saídas de algumas terras no Alentejo, onde a N2 passou a seguir apenas no sentido sul-norte. Mas para qualquer dúvida, sei que por onde a sombra passar, aí estará sempre alguém sentado para lhe perguntar.

Ver aqui o video do 3º dia de viagem pela N2, no jornal "i" on-line

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ainda não tinha o sol rompido por detrás das montanhas junto à vila de Gois, depois de um banho no Ceira, tomo um pequeno almoço com todos os apetrechos, leite, café e umas torradas com queijo derretido, feitas na tostadeira de folha de lata que vai ao bico do fogão.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Pelo caminho vão se encontrando velhas relíquias, mal comecei este desenho apareceu imediatamente o dono com aquela conversa de vendedor que todos conhecemos. Começou por me parecer muito orgulhoso do seu carro, para no fim já mo querer vender!
Enquanto isso foi abrindo tudo o que havia para abrir, portas capô, tampa da mala, tal como um puto que mostra todas
as funções de um brinquedo, é claro sempre pondo-se à frente do meu desenho.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Aqui em Alvares no kilometro 301 os banhos públicos soavam a familiares, a terra era tão pequena que as pessoas que partilhavam uma pequena praia fluvial eram uma família, tive a sensação de entrar na banheira de casa deles! Pedi licença e mergulhei numa agua tão pura e cristalina que fui bebendo enquanto nadava.
Depois fiz este desenho com toda a calma.

domingo, 15 de novembro de 2009

Os marcos que marcam as dezenas de kilometros têm a forma de paralelipipedo, não têm a curvatura incómoda em cima como os que marcam os kilometros entre as dezenas.
Estes são mais confortáveis, têm a altura ideal para nos sentarmos à beira da N2 e ver os poucos carros que ainda por ali passam. São também da mesma altura do banquinho que levei para ir desenhando mais confortavelmente.
Para que um desenho corra bem é necessário o mínimo de conforto.

sábado, 14 de novembro de 2009

O Buggy foi o navegador sonolento que nem deve ter dado pela viagem. Quando sentia o motor desligar levantava o sobrolho para avaliar se valeria a pena o esforço de saltar da carrinha. Não foi difícil esperar que não se mexesse para que o desenho acontecesse.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Passado Vila do Rei no centro geodésico de Portugal rapidamente se inicia uma descida em direcção a Abrantes onde se atravessa o Tejo, que marca a verdadeira fronteira entre o norte e o sul. Daí para baixo a paisagem muda radicalmente, as grandes rectas provam que o terreno é agora plano. Aproveito para "desentorpecer" o motor à carrinha e quando penso que vou nos limites olho para o lado e vejo-me ultrapassado por um casal de velhotes numa Citroen Dyane!
A imagem que humilhou o "pão de forma" ficou na retina e o desenho saiu mais tarde.
A motorizada do padeiro da vila de montargil, provavelmente nunca avariou, talvez tenha trocado a vela uma vez, eventualmente mudado um pneu, a borracha do pedal do kiko de tantas vezes ter pegado talvez se tenha soltado, o padeiro não se lembrará da ultima vez que passou óleo na corrente.
O bloco do motor é alemão tudo o resto é nacional e igualmente indestrutível.
Feitas as contas, será o veículo motorizado em que o kilómetro sairá mais barato.
Se virmos fumo azul pela berma da estrada e ouvirmos aquele barulho triiimm tim tim é porque ainda anda alguma por aí.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Depois da overdose de kilómetros feitos no dia anterior, parto para o 4º dia de viagem pela N2 com a folga de tempo suficiente para poder apreciar devidamente os derradeiros kilómetros na Serra do Caldeirão, que conhecendo já o seu traçado sabia que eram bem interessantes.
Passados os campos de girassóis seguem-se os de trigo, até o terreno se tornar progressivamente mais sinuoso quando no aproximamos de Almodôvar.
A N2 está prestes a finalizar e da melhor maneira, às curvas pela serra do Caldeirão.
À saída de Almodôvar está um grande placa que classifica como Património Nacional os 60 km do troço que se segue até Alportel.
Aqui a estrada foi recuperada no seu traçado e estética original, pintaram-se os muros que ladeiam as pontes assim como os pilares com rede de protecção,
marcos e tabuletas em cimento armado tal como se fizeram nos anos 30.
O magnífico encadeamento das curvas e contra-curvas que se segue, só pode ter sido desenhado por artistas com um enorme sentido automobilístico para deleite dos verdadeiros apreciadores de condução.
Ainda se encontram algumas casas dos cantoneiros que de norte a sul seguem o mesmo padrão arquitectónico “português suave”, que aqui datam de 1937, quando terá sido pavimentada aquela que fora em tempos a estrada real que ligava pelo interior do Caldeirão Faro a Almodóvar.
Os kilómetros que se seguem de Alportel até Faro, mal se conseguem contar pelo desmazelo do velho traçado. Tal como em Chaves no kilómetro 0 também aqui tive de seguir a pé pela berma para poder encontrar o ultimo vestígio da marcação da Nacional 2.

O relato em video deste 4º dia pode ser visto aqui.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

4ºDia EN2

O 4º dia de viagem pela EN2 começa assim, com um belo banho de madrugada em Montargil entre lagostins de rio, cegonhas e achigãns.
Acordo bem cedo para que mais uma vez desenhos e kilómetros pudessem encaixar num só dia. Este seria o ùltimo que me levaria a passar toda a planície do Alentejo até às curvas da Serra do caldeirão no Algarve e finalmente descer até ao litoral em Faro onde a N2 completaria 740km.

ver excerto em: http://www.ionline.pt/itv/16312-atravessar-o-pais-pela-en2---4-parte-viagem-montargilfaro
Depois de Montárgil, a viagem pela EN2 segue rumo a sul, daqui para a frente sei que não vou ter a oferta da qualidade de barragens e praias fluviais que me fui habituando nos kilómetros passados na região norte e centro.
Perto de Mora, sem fazer um grande desvio, passei ainda cedo pelo Fluviário. Não tinha ninguém, estive frente aos aquários a desenhar os achigans e outros peixes que tinha visto.
Vale mesmo a pena fazer um desviozinho ao chegar a Brotas no ùnico sítio em toda a N2 onde esta se torna tão estreita que só passa um carro, virar para uma estrada de terra e andar cerca de 2 kilómetros até à Torre das Águias,monumento insólito abandonado no meio do nada, verdadeiramente fantástico!
Parei para desenhar esta Igreja em Ferreira do Alentejo, exactamente onde a N2 cruza a N121. A partir daqui seguem-se os campos de girassóis depois os de trigo antes de se entrar na fase derradeira das curvas do caldeirão. A viagem aproxima-se do fim.
Na hora do calor as vilas alentejanas parecem cidades fantasma, mas por onde a sombra passar lá estaria sempre alguém a que pudesse perguntar.
Estações de serviço eventualmente da década de sessenta. Foram verdadeiros ancoradouros para se verificar tudo a quem somava horas de viagem. Funcionavam como ponto de civilização mais próximo, havia telefone deixava-se e levantava-se o correio.
Olhei com inveja o preço do gasóleo agrícola.
Quem me dera que a carrinha gostasse desta ração de segunda e se deixasse de fidalguias de gasolinas cheias de octanas ainda enriquecidas com aditivos energeticólubrificantes.
Paro num campo de girassóis, sem desligar o motor para um chichi rápido de beira da estrada. No regresso à carrinha o desenho era inevitável, a linha de horizonte do amarelo dos girassóis prolongava-se pela mesma linha de cintura amarela da VW.
As casas dos cantoneiros datam de meados dos anos trinta, vêem-se ainda um pouco por todo o país, todas com um estilo arquitectónico idêntico, umas abandonadas outras reformadas para outros fins. Curiosamente datam todas desta mesma época de grande incremento nas obras públicas, enquanto Duarte Pacheco foi ministro.
Este é o painel de instrumentos da velha nave amarela que me levou primeiro de Lisboa a Chaves, depois de Chaves a Faro e finalmente de Faro novamente a Lisboa, numa viagem em tom de reportagem sobre a EN2, feita em Julho passado e publicada no jornal "i" durante 4 dias no princípio de Setembro.
Apresento agora aqui e de forma integral a viagem pela estrada Nacional 2 em sentido inverso, ou seja de Faro até Chaves de forma a respeitar a estrutura deste blog que apresenta os cadernos de trás para a frente para que no fim tenha uma leitura sequencial lógica.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Caderno amavelmente oferecido pela minha ex aluna "Norma"
pouco tempo depois de durante uma aula ter explicitamente gabado o seu caderno (igual a este)!
Excelente encadernação portuguesa, capa 30x21cm, com cantos reforçados, forrado em papel fantasia, miolo em papel cavalinho.
O caderno esteve "ao serviço" entre Março e Maio numa altura que os desenhos corriam com um caudal bem maior do que agora.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Esta senhora levava mesmo um enorme casaco vermelho.
Por causa dela em plena viagem enchi o reservatório de um pincel de água com tinta da china vermelha.
Foi ela a responsável pela contaminação do vermelho nos outros desenhos que se seguem.