sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Praia Fluvial de Penacova, desenho contemplativo após um banho excelente.
Sábado, 11 de Julho, os avós levam o neto para lanchar na praia fluvial em Penacova. É a avó que prepara com todos os mimos aquilo que julga que o neto gosta mais, enquanto o avô conta as amarguras que em tempos ali passou quando levava a vida a carregar a camioneta com areia para a construção e durante a noite ainda fazia o curso de marcenaria.
Os tempos mudaram! Esse tinha sido um passado ainda recente, o avô pertence já a uma geração pós rural em que a principal actividade empregadora nesta região foi a construção.
Este mesmo espaço de memórias sofridas do avô, é hoje o espaço de brincadeira do neto, que mostrava não ter nem apetite para o lanche nem apetite para as histórias do avô.
O desenho foi feito a partir de uma fotografia tirada disfarçadamente no local.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Em Julho os dias são grandes, depois de muitos kilometros misturados com alguns desenhos chego a Gois ainda com luz de fim de tarde, hora em que "banhistas fluviais" saíam do rio e ocupavam a esplanada de onde desenhei a ponte Joanina.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Depois de um belo cabrito à moda da região, no restaurante da bomba de gasolina na entrada de Gois, que já conhecia desde pequeno através de uma vinheta da BD dos anos 70 de "Michel Vaillant" Rali de Portugal, recordo os tempos em que o rali era o ùnico acontecimento no ano que agitava aquela terra.
Hoje mesmo sem rali, Gois tem durante o verão esplanadas fantásticas em "deck"s de madeira sobre o rio Ceira, com noites de Karaoké.

sábado, 21 de novembro de 2009

3º Dia, N2, Gois - Montárgil

No 3º dia de viagem pela N2 levanto-me bem cedo para aproveitar o dia ao minuto. Ainda o sol ameaçava descobrir por detrás do perfil da Serra da Lousa, um mergulho gelado no Ceira fez-me ficar esperto para a estrada.
Este foi um dia pautado por mergulhos sucessivos sempre que passava por rios ou barragens. Senti-me uma espécie de “provador” perante um enorme “menu” de praias fluviais. Ao Kilómetro 301 tenho a sensação de quase entrar na banheira de uma casa de banho familiar, quando partilho um banho de rio com as pessoas da povoação de Álvares.
A N2 segue para sul sempre mais ou menos às curvas serpenteando as serras que se sucedem até Vila do Rei. Atravessa vastas áreas de pinheiros e eucaliptos que têm sido sucessivamente pasto para fogos. Do centro geodésico de Portugal até passar
o Tejo em Abrantes é sempre a descer é altura para deixar arrefecer o motor.
O Tejo marca a verdadeira fronteira na paisagem entre o norte e o sul.
Daí para baixo tudo muda, os pontos de água passam a ser escassos,
as curvas dão lugar às grandes rectas e do verde predominante passamos para o amarelo.
O calor é agora mais intenso e os “spots” para banhos de rio menos frequentes, contam-se daí para baixo algumas barragens nem sempre convidativas
a mergulhos. A estrada segue agora perfeitamente identificável excepto nas entradas
e saídas de algumas terras no Alentejo, onde a N2 passou a seguir apenas no sentido sul-norte. Mas para qualquer dúvida, sei que por onde a sombra passar, aí estará sempre alguém sentado para lhe perguntar.

Ver aqui o video do 3º dia de viagem pela N2, no jornal "i" on-line

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ainda não tinha o sol rompido por detrás das montanhas junto à vila de Gois, depois de um banho no Ceira, tomo um pequeno almoço com todos os apetrechos, leite, café e umas torradas com queijo derretido, feitas na tostadeira de folha de lata que vai ao bico do fogão.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Pelo caminho vão se encontrando velhas relíquias, mal comecei este desenho apareceu imediatamente o dono com aquela conversa de vendedor que todos conhecemos. Começou por me parecer muito orgulhoso do seu carro, para no fim já mo querer vender!
Enquanto isso foi abrindo tudo o que havia para abrir, portas capô, tampa da mala, tal como um puto que mostra todas
as funções de um brinquedo, é claro sempre pondo-se à frente do meu desenho.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Aqui em Alvares no kilometro 301 os banhos públicos soavam a familiares, a terra era tão pequena que as pessoas que partilhavam uma pequena praia fluvial eram uma família, tive a sensação de entrar na banheira de casa deles! Pedi licença e mergulhei numa agua tão pura e cristalina que fui bebendo enquanto nadava.
Depois fiz este desenho com toda a calma.

domingo, 15 de novembro de 2009

Os marcos que marcam as dezenas de kilometros têm a forma de paralelipipedo, não têm a curvatura incómoda em cima como os que marcam os kilometros entre as dezenas.
Estes são mais confortáveis, têm a altura ideal para nos sentarmos à beira da N2 e ver os poucos carros que ainda por ali passam. São também da mesma altura do banquinho que levei para ir desenhando mais confortavelmente.
Para que um desenho corra bem é necessário o mínimo de conforto.

sábado, 14 de novembro de 2009

O Buggy foi o navegador sonolento que nem deve ter dado pela viagem. Quando sentia o motor desligar levantava o sobrolho para avaliar se valeria a pena o esforço de saltar da carrinha. Não foi difícil esperar que não se mexesse para que o desenho acontecesse.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Passado Vila do Rei no centro geodésico de Portugal rapidamente se inicia uma descida em direcção a Abrantes onde se atravessa o Tejo, que marca a verdadeira fronteira entre o norte e o sul. Daí para baixo a paisagem muda radicalmente, as grandes rectas provam que o terreno é agora plano. Aproveito para "desentorpecer" o motor à carrinha e quando penso que vou nos limites olho para o lado e vejo-me ultrapassado por um casal de velhotes numa Citroen Dyane!
A imagem que humilhou o "pão de forma" ficou na retina e o desenho saiu mais tarde.
A motorizada do padeiro da vila de montargil, provavelmente nunca avariou, talvez tenha trocado a vela uma vez, eventualmente mudado um pneu, a borracha do pedal do kiko de tantas vezes ter pegado talvez se tenha soltado, o padeiro não se lembrará da ultima vez que passou óleo na corrente.
O bloco do motor é alemão tudo o resto é nacional e igualmente indestrutível.
Feitas as contas, será o veículo motorizado em que o kilómetro sairá mais barato.
Se virmos fumo azul pela berma da estrada e ouvirmos aquele barulho triiimm tim tim é porque ainda anda alguma por aí.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Depois da overdose de kilómetros feitos no dia anterior, parto para o 4º dia de viagem pela N2 com a folga de tempo suficiente para poder apreciar devidamente os derradeiros kilómetros na Serra do Caldeirão, que conhecendo já o seu traçado sabia que eram bem interessantes.
Passados os campos de girassóis seguem-se os de trigo, até o terreno se tornar progressivamente mais sinuoso quando no aproximamos de Almodôvar.
A N2 está prestes a finalizar e da melhor maneira, às curvas pela serra do Caldeirão.
À saída de Almodôvar está um grande placa que classifica como Património Nacional os 60 km do troço que se segue até Alportel.
Aqui a estrada foi recuperada no seu traçado e estética original, pintaram-se os muros que ladeiam as pontes assim como os pilares com rede de protecção,
marcos e tabuletas em cimento armado tal como se fizeram nos anos 30.
O magnífico encadeamento das curvas e contra-curvas que se segue, só pode ter sido desenhado por artistas com um enorme sentido automobilístico para deleite dos verdadeiros apreciadores de condução.
Ainda se encontram algumas casas dos cantoneiros que de norte a sul seguem o mesmo padrão arquitectónico “português suave”, que aqui datam de 1937, quando terá sido pavimentada aquela que fora em tempos a estrada real que ligava pelo interior do Caldeirão Faro a Almodóvar.
Os kilómetros que se seguem de Alportel até Faro, mal se conseguem contar pelo desmazelo do velho traçado. Tal como em Chaves no kilómetro 0 também aqui tive de seguir a pé pela berma para poder encontrar o ultimo vestígio da marcação da Nacional 2.

O relato em video deste 4º dia pode ser visto aqui.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

4ºDia EN2

O 4º dia de viagem pela EN2 começa assim, com um belo banho de madrugada em Montargil entre lagostins de rio, cegonhas e achigãns.
Acordo bem cedo para que mais uma vez desenhos e kilómetros pudessem encaixar num só dia. Este seria o ùltimo que me levaria a passar toda a planície do Alentejo até às curvas da Serra do caldeirão no Algarve e finalmente descer até ao litoral em Faro onde a N2 completaria 740km.

ver excerto em: http://www.ionline.pt/itv/16312-atravessar-o-pais-pela-en2---4-parte-viagem-montargilfaro
Depois de Montárgil, a viagem pela EN2 segue rumo a sul, daqui para a frente sei que não vou ter a oferta da qualidade de barragens e praias fluviais que me fui habituando nos kilómetros passados na região norte e centro.
Perto de Mora, sem fazer um grande desvio, passei ainda cedo pelo Fluviário. Não tinha ninguém, estive frente aos aquários a desenhar os achigans e outros peixes que tinha visto.
Vale mesmo a pena fazer um desviozinho ao chegar a Brotas no ùnico sítio em toda a N2 onde esta se torna tão estreita que só passa um carro, virar para uma estrada de terra e andar cerca de 2 kilómetros até à Torre das Águias,monumento insólito abandonado no meio do nada, verdadeiramente fantástico!
Parei para desenhar esta Igreja em Ferreira do Alentejo, exactamente onde a N2 cruza a N121. A partir daqui seguem-se os campos de girassóis depois os de trigo antes de se entrar na fase derradeira das curvas do caldeirão. A viagem aproxima-se do fim.
Na hora do calor as vilas alentejanas parecem cidades fantasma, mas por onde a sombra passar lá estaria sempre alguém a que pudesse perguntar.
Estações de serviço eventualmente da década de sessenta. Foram verdadeiros ancoradouros para se verificar tudo a quem somava horas de viagem. Funcionavam como ponto de civilização mais próximo, havia telefone deixava-se e levantava-se o correio.
Olhei com inveja o preço do gasóleo agrícola.
Quem me dera que a carrinha gostasse desta ração de segunda e se deixasse de fidalguias de gasolinas cheias de octanas ainda enriquecidas com aditivos energeticólubrificantes.
Paro num campo de girassóis, sem desligar o motor para um chichi rápido de beira da estrada. No regresso à carrinha o desenho era inevitável, a linha de horizonte do amarelo dos girassóis prolongava-se pela mesma linha de cintura amarela da VW.
As casas dos cantoneiros datam de meados dos anos trinta, vêem-se ainda um pouco por todo o país, todas com um estilo arquitectónico idêntico, umas abandonadas outras reformadas para outros fins. Curiosamente datam todas desta mesma época de grande incremento nas obras públicas, enquanto Duarte Pacheco foi ministro.
Este é o painel de instrumentos da velha nave amarela que me levou primeiro de Lisboa a Chaves, depois de Chaves a Faro e finalmente de Faro novamente a Lisboa, numa viagem em tom de reportagem sobre a EN2, feita em Julho passado e publicada no jornal "i" durante 4 dias no princípio de Setembro.
Apresento agora aqui e de forma integral a viagem pela estrada Nacional 2 em sentido inverso, ou seja de Faro até Chaves de forma a respeitar a estrutura deste blog que apresenta os cadernos de trás para a frente para que no fim tenha uma leitura sequencial lógica.