sábado, 30 de março de 2013

Do Namibe não se sai para muitos lados, ou se volta para trás de regresso ao Lubango, ou se segue numa picada junto ao litoral na direcção de Lucira, ou se vai pelo deserto numa estrada acabada de asfaltar na direcção de Tombwa, antigo Porto Alexandre. Foi essa ultima a nossa opção, para se poder filmar segundo a ordem do guião no ambiente desértico que correspondesse às descrições de Capelo e Ivens. Outras descrições sobre esta zona de Angola falavam da existência de cobras e escorpiões do deserto do Namibe mas também de uma planta que sempre ouvi falar e que pelo facto de apenas existir ali e em alguns lugares na Namíbia, constitui um autêntico símbolo nacional. Curioso é que, também graças aos campos minados deixados pela guerra esta planta parece poder preservar-se melhor ali do que no país vizinho! De papel na mão enquanto decorava o guião, a medo ia levantando uma pedra após a outra na mira de encontrar um escorpião do deserto, neste deambular deparei com a primeira Welwitschia Mirabilis, depois outra, depois outra, e outra ainda maior! Olhei em redor e vi que afinal havia imensas até se perderem na linha do horizonte. Estas plantas crescem muito devagar algumas delas podiam ter perto de 1000 anos, grande parte possivelmente já lá estavam quando em 1884 Capelo e Ivens por ali passaram, 25 anos depois do explorador botãnico Friedrich Welwitsch a ter descoberto numa viagem de exploração botânica a Angola subsidiada pelo estado Português. A Equipa de filmagem desconhecia a importância deste "monumento" vegetal, não fossem as minhas advertências e o nosso 4X4 por pouco passava-lhes por cima. Não foi fácil convencer a produção para que na madrugada seguinte, mesmo antes do sol nascer, à hora em que as cobras saem para caçar, aquela planta mesmo não fazendo parte do guião, teria de merecer um "take".

quarta-feira, 13 de março de 2013

Os planos de rodagem para o segundo dia no Namibe saíram furados, alguns quilómetros depois da saída da cidade uma enorme fila de camiões deixava antever que alguma coisa se passaria para que o transito não fluísse na saída principal que faz a ligação com a estrada para o Lubango. Nesse dia tinha-mos marcado um encontro com o Soba de uma aldeia próxima, mas em África é mesmo assim, lidar com o imprevisto é uma lição que não se aprende logo. Na noite de chegada aquela cidade tinha uma ponte caído, agora na saída foi um camião cisterna que se virou. Se viesse uma grua de Luanda poderia demorar uma semana a chegar, seria mais rápido abrir uma picada que fizesse mais um atalho, mas isso, por mais rápido que fosse seria sempre demasiado lento para o ritmo de rodagem de um documentário europeu.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Também no Namibe uma boa parte do tempo era passado à procura do fulano tal de uma repartição tal que nos deveria conduzir para falar com o encarregado tal que agora foi almoçar, mas que nos haveria de passar um tal papel que confirmaria a tal autorização para poder filmar em tal parte. Nestas andanças enquanto se espera e desespera o desenho pode acontecer no virar de uma esquina no coração do tráfego de motorizadas que cruzam os quarteirões no limite da máxima rotação. Tudo cheira a "deja vu" desde arquitectura do sul de Portugal à memória do som e do cheiro das motorizadas.