sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O Eurico

Não sendo especialmente assíduo já sou no entanto da casa, passo à frente dos turistas, posso dizer que gozo desse estatuto territorial, se entro sozinho, tenho lá sempre um cantinho. Aperto-me entre os maduros do costume mais alguns turistas que entretanto já deram com aquilo. Vejo que não são os habituais que desembarcam dos navios desse tipo de carga nem os que rolam tróleis pela calçada, são ainda os das mochilas que estudam o Lonely Planet! Parecem estar bem integrados, metem conversa, são curiosos, perguntam-me porque é que ponho tanto azeite no bacalhau! Eles também pediram o mesmo porque deve vir no Lonely Planet, mas não é provável que lá diga que devem pôr muito azeite no bacalhau. Tinham-no comido seco e salgado, mas beberam vinho num jarrinho. A Dona Lina vinha sempre à sala, tratava-me por filho, costumava perguntar se estava tudo bem, se tinha ficado satisfeito, se comia mais um bocadinho, com esta nova afluência já não tem tempo para sair da cozinha. A Teresa trata todos por tu, faz a conta na toalha e os trocos no avental, na terra deles há muito que não existe nada parecido, além de tudo, ninguém acreditaria no que pagaram nem no que comeram. Lá fora a fila vai crescendo pela minha vez.

3 comentários:

Rosário disse...

Gosta tanto destes sítios e claro o desenho está fantástico!

João Catarino disse...

Pois é Rosário é aproveitar enquanto duram porque estes lugares têm os dias contados.
É uma geração de trabalho incansável que está a chegar ao fim, os filhos não pegam nestes negócios e quando pegam
transformam em estabelecimentos gourmet!


Teresa Ruivo disse...

Adoro estas peças soltas que se encaixam harmoniosamente, de forma a sugerir-nos o que não está lá, como se lá estivéssemos!
Quantos aos Euricos da vida, temos a responsabilidade de não os deixar acabar, fazendo como tu:)